"...deves preparar-te amparado em valores limpos, em que o respeito por tudo e todos seja a tua fórmula principal...".
Vou tentar (como
parede de pedra que sou!) transmitir o que os sentimentos dos mortais chegam a
conseguir gerar entre vocês através das diversas formas de os comunicar, as
quais ao serem empregues inadequadamente, não chegam a transmitir o que
realmente se sente, causando um resultado de desaprovação, o qual deve ser
evitado, ainda que não se partilhe das mesmas ideias.
As diferentes ideias ou formas de
pensar, enriquecem os seres humanos, porém não esqueçamos que também os
confronta; e é aqui que cada um tem que fazer a sua parte para evitar tais
confrontos.
Cada um decidirá que caminho
seguir(confronto ou entendimento), e o caminho seguido será como íman regido
pela lei da atracção, por conseguinte não esqueçamos que o confronto afasta e o
entendimento aproxima, o confronto destrói e o entendimento constrói; deixemos
de lado o confronto decidamos seguir o caminho do entendimento; para tal tendes
que dotar-vos de armas que combatam e destruam qualquer sinónimo contrário ao
entendimento, para que as diversas ideias possam fluir lado a lado no mesmo
trilho; deves preparar-te amparado em valores limpos, em que o respeito por tudo
e todos seja a tua fórmula principal, que te permitirá ser mais tolerante com os
teus semelhantes e mais exigente contigo mesmo.
Este princípio ajudará a dar o valor
real, até ao que parecia não o ter, sendo que o mais grave é tê-lo e por
momentos esquecer de o valorizar, por exemplo:” quando não se tem problemas de
saúde, nem pensamos nela”, inclusivé em determinadas situações a pomos em perigo,
porém quando temos um problema de saúde, o valor real vem à mente, sobretudo
pelo quanto está sofrer. Por conseguinte, tudo tem o seu valor...se tu valorizas
as tuas ideias, porque não valorizar as dos outros?
Dito isto, que se aplica em tudo na
vida, apliquêmo-lo ao que nos traz aqui: a montanha e a escalada! É aqui que em
tempos idos, se inicia certa actividade, que com o passar dos anos vai moldando-se
e adquirindo outras formações, até chegar aos nossos dias,aonde a diversidade de
modalidades, inclusivé dentro das mesmas, nos encontramos com ideias diferentes
para abordar as actividades; é aqui que se geram ideias que podem ser ou não
partilhadas por outros semelhantes, ideias colectivas em busca do meio com as
caracteristícas adequadas para as pôr em prática.
Não caias no erro de rejeitar o que
não defendes, em vez disso, escuta e vive essas ideias limpas que outros seguem
e pensa que que se há alguém as segue é porque acredita nelas, assim como tu nas
tuas.
Podiamos ir mais além e perguntar:
-Qual é a ideia ou ideal que te guia
pelo caminho correcto?, creio que antes desta pergunta cada um teria que
perguntar a si próprio:
-O que quero, o que procuro?
Desta forma podes presumir, que
graças a pessoas como tu, e tu próprio, o poder de eleger o lugar ou lugares que
mais se adequa às ideias que defendes, elegendo um monte, uma cordilheira, zonas
de boulder, zonas escola, que se preparam ou não com base nessas ideias, as
quais haveis eleito porque coincidem com a vossa forma de ver essa actividade; e
haverá outros que partilham com outros uma forma diferente da tua, e outros que
se identificam com tudo o que seja verticalidade, seja nas pequenas e explosivas
alturas como nos podem oferecer o boulder, ou numa grande parede de 1000 metros,
ou inclusivé, em solitário numa parede selvagem de 3000 metros nos Himalaias.
Recorda que todas as actividades que estejam relacionadas com mundo vertical são
ricas, necessárias e que de nenhuma se deve prescindir.
Porque a escalada é rica, pela sua
diversidade podes receber o “abanão” que precisas para eleger o que realmente
buscas, até onde queres chegar; de ti virá o esforço queres e terás que empregar,
é aqui onde podes...
...podes praticar uma escalada de iniciação à busca de algo fundamental na vida
e sobretudo num desporto de risco como a escalada: a segurança em ti mesmo!
Tudo nesta vida tem um preço e ser-se
seguro também, o esforço que terás que empregar, a tua força terá que lutar
contra três factores muito importantes, tal como o grau técnico, mas também com
os dois mais importantes para que consigas uma boa segurança: o factor de
exposição e o factor psicológico; pela minha superfície aprenderás a dominar as
tuas emoções, e quanto mais as domines, mais te aproximarás de ser seguro
contigo mesmo; nunca ignores que aquilo que tu és é aquilo que tu podes oferecer.
Esforça-te em ser seguro e não caias na trampa da confiança em ti próprio. Tens
que ser seguro e nada mais. A confiança tem que existir dos teus companheiros
para ti, porque tu és...o quê?...SEGURO... e os teus companheiros têm que se
esforçar também para que possar confiar neles, é uma função de reciprocidade; se
seguro , pela lei da atracção será facilitado que apareça a segurança nos demais.
É por isso que estou aqui, para que com uma nova arma que te brindo - a sensatez-
(que te ajudará a diferenciar entre a confiança e a segurança), possas escalar
pelo meu relevo cheio de fissuras , as quais, muitas delas terás que autoequipar,
encontrarás placas onde as distâncias entre chapas são mais distantes que o
habitual e a concentração para enfrentar as diferentes vias não deves permitir
que desvie ao temor pela dureza do factor psicológico e exposição, pelo
contrário, estarás deviando-te do caminho para a segurança.
Se o que buscas é segurança em ti
mesmo, vem.
Tua sempre,
Meadinha
"...um ser humano não é dono nem da sua própria vida...a decisão tomada seguirá cultivando a harmonia deste local...".
Deixemos de lado o
sentimento de possessão, digo isto, porque um ser humano não é dono nem da sua
própria vida, “ no momento em que menos se espera se pode ver despojado dela”.
Por conseguinte Eu (Meadinha), uma
parede como muitas outras paredes, zonas escolas, campos de boulder e todo o que
se nos poder ocorrer, não sou de ninguém e quem quiser poderá decidir de que
forma abrir uma via pelos meus relevos. É aqui que peço que mesmo sendo as tuas
ideias diferentes ou não, fluam paralelas à forma de respeitar o tipo de escalada
que nesta escola se pratica, invariável ao longo da história; de igual modo repeitas a
outros locais...porque não aqui também???
Para tal eu gostaria que, antes de
decidires abrir um novo itinerário, me conhecesses escalando pelos meus relevos,
“empapándote” nas vias e escutando a filosofia que durante gerações se defende.
Confio que a decisão tomada seguirá
cultivando a harmonia deste local. Se em algum momento tiveres dúvidas, eu
estarei aqui, - ainda que seja de pedra saberei escutar-te.
Para sempre,
Meadinha